Arte do Sucesso: Sobrinha de Trump prova que Presidente dos EUA só diz a verdade

Esqueçam os livros de análise profunda e cuidada sobre o fenómeno político de Donald Trump.

Sobre as causas da sua vitória e sobre o contexto social que lhe está subjacente. Sobre a necessidade imperioso de revitalização da Política – suas práticas, seus propósitos e mesmo a sua doutrinação -, de maior exigência face à classe política e de redirecionar os propósitos cimeiros da ação política para a promoção da qualidade de vida das pessoas. É preciso acentuar, uma vez mais, o demos na cracia – devolver o poder povo.

E esta não é uma formulação vazia ou meramente idealista sem qualquer viabilidade de execução prática: os “founding fathers” sabiam que há (tem que haver!) uma componente populista (na teoria) que se projeta em aplicação popularista (na prática) das disposições constitucionais – mais concretamente, das regras do jogo político.

Contudo, nada disto interessa – o que releva, isso sim, são as intrigas , pretéritas e presentes, internas da família Trump. O que releva como matéria estruturante para a democracia é o conteúdo das conversas mantidas ao jantar por Donald Trump com os seus pais, os eus cunhados, as suas filhas, as suas primas…Este é o mote do livro que gerou um sucesso que nem a sua própria editora previu: referimo-nos ao livro da autoria de Mary L. Trump, sobrinha do Presidente Donald Trump.

Haverá justificação para a histeria em torno do livro? Há algum dado novo que pudesse explicar a ansiedade e o amplíssimo destaque mediático que “Too Much and Never Enough” (título do livro em causa) recebeu? As respostas são claramente negativas. A verdade é que o livro é pequeno em termos de páginas – e limitado em termos de novidades.

Podemos, com propriedade, asseverar que é nulo no que concerne a novidades com relevo. As informações reveladas por Mary Trump são meramente circunstanciais, em jeito de relato de episódios da vida familiar: declarações à hora de jantar; o menu do “Thanksgiving”, a forma como Donald Trump lhe preparou a festa de aniversário; a relação entre Fred Trump e os seus filhos. Nada que tenha interesse político ou social, nem mesmo para a construção/análise da personalidade de Donald Trump.

Não obstante, a designada “comunicação social de referência” entendeu que o livro de fofocas de Mary Trump justifica dezenas de páginas, horas de entrevistas televisivas e até comentários políticos (!) ao livro.

Será que os conflitos da família Trump relativamente a um processo de partilha colocam também em causa a democracia norte-americana para os génios do comentário político da “CNN” ou do “The Washington Post”? Será que a tarde passada por Mary L. Trump na piscina de Mar –a-Lago, em bikini (por ela descrita no livro), diz-nos algo sobre como Trump se poderá relacionar com os Congressistas norte-americanos?

Ou como parar a ascensão do imperialismo bárbaro do Partido Comunista Chinês? Talvez o inenarrável Don Lemon tenha a resposta para este dilema democrático tão complexo suscitado pelas memórias da sobrinha do Presidente Trump…

Estes génios políticos têm igualmente assinalado que o livro da sobrinha incomodou de sobremaneira o Presidente Donald Trump. Que se terá embaraçado pela desonra causada a si e à sua família. A verdade é exatamente a oposta: Donald Trump está muito orgulhoso do trabalho de “gossip literature” da sua sobrinha. Porquê?

Porque o livro tem a vantagem de provar que a sua sobrinha leu e aprendeu as lições que o próprio Donald Trump enuncia no seu livro “The Art of the Deal”.

Desde logo, Mary L. Trump aprendeu uma das regras da arte da negociação e do sucesso de seu tio: a da utilização da hipérbole como instrumento de persuasão e de reforço da posição negocial.

É a vulgarmente apelidada de “hipérbole positiva”. Está tudo explicado no “The Art of the Deal” – ora, a sobrinha do Presidente Trump, Mary L. Trump, utilizou a estratégia negocial que o seu tio lhe ensinara para firmar um contrato financeiramente muito vantajoso com a editora “Simon &Schuster” e para vender livros.

E o ensinamento de Donald Trump é tão correto, é tão verdadeiro, que está resultando para enriquecer a sua sobrinha: o livro vendeu muito bem, engordando a conta bancária de Mary L. Trump. Parabéns!

Como podemos constatar, a “hipérbole positiva” foi empregue logo no subtítulo do livro:” How my family created the world’s most dangerous man”. “The world’s most dangerous man”, o homem mais perigoso do mundo!!!

Será que Mary L. Trump conhece os Ayattolahs iranianos?

Será que Mary L. Trump já ouviu falar de Xi Jinping, líder da China Imperialista-comunista e do seu regime opressivo?

Será que Mary L. Trump já ouviu falar do criminoso Nicolás Maduro e do seu regime narcotraficante, que condena o seu povo à miséria?

Será que Mary L. Trump já ouviu falar do Hezbollah? Ou dos líderes dos cartéis de droga que entram ilegalmente na fronteira do sul dos EUA?

Enfim…julgamos que Mary L. Trump é uma pessoa altamente qualificada, com um percurso académico brilhante – e que conhece tudo (e todos) o que acabámos de elencar. Donde, só há uma conclusão lógica: a de que Mary L. Trump quis honrar o seu tio, mostrando que a sua “The Art of the Deal” é muito eficaz e leva realmente ao sucesso.

O livro enferma, assim, de uma contradição lógica: por um lado, aponta que Donald Trump tem uma relação difícil com a verdade; por outro, demonstra que as regras do “The Art of the Deal” até conseguem vender livros e originar contratos chorudos com editoras. Brilhante, caríssima Mary L. Trump – a sua estratégia negocial foi irrepreensível. Aproveite o dinheiro acumulado – merece-o na íntegra! E é a forma mais eficaz de mostrar como Donald Trump tem uma relação com a verdade e com o sucesso de verdade.

Ademais, e por último, confirma-se algo que já todos sabíamos: a estupidificação dos media tradicionais- com as democracias de tipo ocidental sob ameaça, com a civilização judaico-cristã a ser objeto de ataques diários, sistemáticos e agressivos, com a desigualdade a crescer exponencialmente entre nós, os media divertem-se com os jantares de família de Trump e com a análise minuciosa dos processos de partilha de bens sucessórios da família Trump…

Ao menos, com Mary L. Trump, aprendemos a arte de fazer vender livros e os méritos do mercado livre; com os media e os jornalistas ao serviço do “pântano político” só aprendemos a não querer ser como eles – subservientes, alienados e meros ventríloquos de mensagens (e interesses) alheios…

João Lemos Esteves

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